Ora viva. Estamos de volta. Directo à Questão.
A Economia é facilmente entendida como uma ciência exacta, baseada em premissas objectivas ou em previsões matemáticas concretas. Mas será que não existe um lado subjectivo na ciência económica? O desempenho de uma carteira de títulos ou de uma bolsa de valores não será também condicionado por questões comportamentais? Em que medida o lado emocional poderá afectar as decisões de investimento e os retornos obtidos?
Desde há muito que a ciência económica encontra laços fortes com a psicologia. Já em 1759, Adam Smith publicava «The Theory of Moral Sentiments», onde descrevia os princípios psicológicos do comportamento individual. No entanto, foi apenas a partir da década de 60 do século XX que se viu substancialmente desenvolvida a área de estudos científicos sobre o comportamento emocional dos agentes económicos. Procuraram aquelas pesquisas descobrir em que medida o processo de decisão de cada sujeito afecta aspectos e níveis tão diversos como o sobe e desce dos preços, a alocação de activos ou os resultados dos investimentos.
Esta área de investigação é frequentemente designada como “behavioral finance”, a chamada área comportamental das finanças, a qual combina a economia com a ciência cognitiva para explicar o comportamento aparentemente irracional da gestão do risco pelos seres humanos. A esta área encontramos associados os pioneiros trabalhos de Amos Tversky, psicólogo cognitivo. Tversky foi o primeiro autor a demonstrar a racionalidade (ou a falta dela) dos agentes económicos, integrando contributos da área da psicologia e também da teoria económica neo-clássica.
Posteriormente, diversos efeitos psicológicos foram identificados por variadíssimos autores na área das finanças comportamentais. Por exemplo, está provado que os investidores em bolsa tendem a ser mais optimistas sobre o investimento em acções quando o mercado está a subir e mais pessimistas quando está a descer. Os estudos evidenciam também que os investidores dão demasiada importância às informações recentes, ignorando facilmente importantes dados de médio-longo prazo. Os investidores tendem ainda a possuir um certo excesso de confiança sobre o crescimento futuro dos resultados de empresas com preços elevados face aos seus resultados actuais e, em oposição, um certo excesso de pessimismo sobre o crescimento dos resultados de empresas com preços reduzidos face aos seus resultados. Curiosamente, a mesma linha de investigação demonstra ainda que as mulheres tendem a ter uma postura mais orientada para o longo prazo do que os homens, pelo que os seus planos de investimento tendem a produzir melhores resultados. Já os investidores com um nível superior de instrução tendem a obter piores resultados, devido ao seu excesso de confiança. Estudos nesta área concluíram que a dor associada à perda de 1 euro (e respectivos múltiplos, naturalmente) tem o dobro da intensidade do prazer associado ao ganho do mesmo montante.
Mais recentemente, em 2002, Daniel Kahneman, psicólogo de nacionalidade israelita, ganhou o Prémio Nobel de Economia pelos seus trabalhos nesta área. Kahneman é, sem dúvida, o expoente máximo e o mais importante teórico da área das finanças comportamentais na actualidade, contribuindo sobremaneira para a definitiva aproximação entre a ciência económica e a ciência psicológica.
Kahneman afirma que, quando tomamos decisões, nem sempre o fazemos objectivamente e demonstrou que essa falta de objectividade tende a seguir um padrão regular que pode ser explicado matematicamente. O Prémio Nobel concluiu, por exemplo, que os homens são mais afectados pela perda do que pelo ganho e tal efeito deve ser tido em conta nos modelos micro-económicos de apoio à decisão.
Este tipo de padrões comportamentais constitui um dos mais fortes factores explicadores das flutuações nos mercados bolsistas, provando que as emoções condicionam a tomada de decisão económica e que o comportamento de gestão do risco por parte dos investidores depende desta “irracionalidade racional”.
Até para a semana. Directo à Questão.