Ora viva. Estamos de volta. Directo à Questão.
No último dia 23 de Setembro sonhava. Era mais uma solarenga manhã de Outono em terras de Celinda. Os ouvidos de quem passava focavam-se na pequena telefonia de bolso. O mais ferrenho adepto acompanhava segundo a segundo o sorteio que prometia. E não é que as bolas extraídas na Sede da Federação Portuguesa de Futebol voltavam a ditar festa da Taça na Sertã? Uma vez mais, o orgulho dos sertaginenses elevava-se ao seu máximo esplendor. Pela segunda vez no mesmo ano civil e pela segunda época futebolística consecutiva, o Sertanense, da modesta Série D da Terceira Divisão Nacional, recebe o todo-poderoso campeão nacional.
Fazem-se programas sobre as “ligas dos últimos”, que dão voz aos pequenos clubes e nos mostram o Portugal profundo como ele é. Clubes que um dia foram grandes. Clubes que sonham diariamente pelo seu momento de fama. Clubes da minha e da sua terra, uns melhor geridos que outros, uns com melhor saúde financeira que outros, um com mais adeptos que outros, uns com mais história que outros.
No meu sonho, o Sertanense era a prova de que é possível tornear o destino. Não temos sempre que sucumbir ao clássico fatalismo luso. Não podermos resignar-nos a um destino de pequenez. Nem todos têm que ser sempre últimos. Afinal, no tal Portugal profundo também há grandes clubes. Clubes que conseguem proporcionar aos seus adeptos dias épicos de emoção, sem se resignarem ao seu estatuto de pequenos.
No meu sonho, o Sertanense era simultaneamente fonte de inveja e de orgulho para as gentes da região. Inveja porque só um clube conseguira nos últimos anos trazer jogos grandes ao interior do país. Orgulho porque fora um clube capaz de representar toda uma região que gosta e sabe apreciar bom futebol. O clube da Sertã colocava o nosso humilde concelho no mapa do futebol nacional. O Sertanense mostrava que a boa gestão, o querer e a raça dentro do campo e alguma pontinha de sorte – afinal de contas o futebol não vive sem ela! – podem transformar o sonho em realidade.
Realidade? E se o meu sonho afinal não fosse um sonho?
Acordei. Afinal era real. Afinal é real!
O Sertanense volta a ser grande no próximo sábado. A Sertã volta a ser palco privilegiado de emoções. Ganha quem luta, dia após dia, dentro e fora de campo, do roupeiro ao massagista, por tornar reais sonhos como este. Ganham as gentes da região. Ganha a festa do futebol. Parabéns Sertanense! E – claro, é um chavão! – que ganhe o melhor! Eu não acredito em milagres!... Mas acredito nas pessoas! O Sertanense já provou vezes suficientes que é preciso acreditar. E que é possível vencer. Independentemente do resultado do próximo dia 18, o Sertanense já venceu. Porque não precisa de voltar a provar a sua capacidade organizativa. Porque é um exemplo de entrega e combatividade em campo. Porque sabe honrar a Sertã e tudo o que nos identifica como região. Neste momento, é impossível ficar indiferente a este clube, é impossível ser da Sertã e não ter orgulho no clube da terra, é impossível não ter uma costela do Sertanense.
Só falta mesmo marcar mais golos que o adversário no sábado. Mesmo que ele seja tão somente o fortíssimo Futebol Clube do Porto. Eu acredito. Força Sertanense!
Até para a semana. Directo à Questão.