Ora viva. Estamos de volta. Directo à Questão.
Assinalaram-se no passado dia 25 de Fevereiro, 154 anos sobre o nascimento de um dos maiores poetas da história da literatura portuguesa: Cesário Verde.
Escrevia Clara Ferreira Alves, em 2001 no Jornal Expresso,"Vida breve teve Cesário Verde. Nasceu em Lisboa em 25 de Fevereiro de 1855, morreu em Lisboa a 19 de Julho de 1886. Tinha 31 anos, idade absurda para morrer com uma tuberculose. Cesário Verde pode ter morrido cedo, pode ter sido esquecido, pode ter sido uma das vítimas da sombra pessoana projectada sobre quase toda a poesia portuguesa posterior. Continua a ser um dos maiores poetas da língua portuguesa e, passe a hipérbole, da literatura europeia, mundial, o que quiserem.
Cesário é mais um poeta do século XX do que do século onde nasceu, e a sua linguagem, estilo, métrica, vocabulário, a concisão dos seus «alexandrinos originais e exactos», como ele diz, sagram-no como um dos inventores do português que usamos. Maria Filomena Mónica, na notável biografia que escreveu de Eça de Queiroz, chega a uma conclusão semelhante. Se Eça libertou a prosa portuguesa da «retórica fradesca» que a dominava, Cesário libertou a língua das amarras do lirismo piegas e do sentimento exaltado, das teias de aranha do ideal parnasiano e do romantismo rendilhado. Maria Filomena Mónica diz que nenhum autor inovou como Eça, «com a possível excepção de Cesário Verde»."
Não é um pintor, é Cesário Verde quem antecipa o impressionismo em Portugal, no final do Século XIX. O seu poema De Tarde, como que pintando palavras com uma inigualável mestria, apresenta-se ao leitor como uma verdadeira tela de Renoir:
Naquele “pic-nic” de burguesas,
Houve uma coisa simplesmente bela,
E que, sem ter história nem grandezas,
Em todo o caso dava uma aguarela.
Foi quando tu, descendo do burrico,
Foste colher, sem imposturas tolas,
A um granzoal azul de grão de bico
Um ramalhete rubro de papoulas.
Pouco depois, em cima duns penhascos,
Nós acampámos, indo o sol se via;
E houve talhadas de melão, damascos
E pão de ló molhado em malvasia.
Mas, todo púrpuro, a sair da renda
Dos teus dois seios como duas rolas,
Era o supremo encanto da merenda
O ramalhete rubro das papoulas!
Até para a semana. Directo à Questão.