Quarta-feira, 14 de Maio de 2008

Jogos Olímpicos: O Espelho de um Mundo

 

Ora viva. Estamos de volta. Directo à Questão.
Os Jogos Olímpicos constituíram desde sempre, ao longo da história, um espelho do clima político e social à escala mundial. Apesar de serem ancorados, desde os tempos da Grécia Antiga, num espírito pacificador – através da famosa “trégua olímpica” – muitas foram as vezes que este propósito subjacente à dinâmica dos Jogos não se concretizou. Por exemplo, nas duas Grandes Guerras Mundiais os Jogos Olímpicos não se realizaram. Em contrapartida, noutras ocasiões, conseguiram ser mesmo desencadeadores de guerras. Em 1972, membros da equipa israelita foram feitos reféns por uma equipa de comandos palestinianos extremistas, provocando uma série de mortos, naquele que haveria de ficar para a história como o Massacre de Munique. Já em 1936, Hitler serviu-se dos Jogos para tentar mostrar a superioridade da raça ariana e recusou-se a entregar a medalha de ouro ao atleta Jesse Owens.
Também a mensagem Humanista, baluarte do espírito olímpico, muitas vezes deixou de ser cumprida. Constituem exemplos os famosos boicotes aos Jogos de 1980 e 1984, durante a Guerra Fria, pelo bloco de países soviéticos e pelos Estados Unidos, respectivamente, e ainda mais recentemente, o violento atentado à bomba ocorrido em Atlanta nos Jogos de 1996.
Temos pois que, dada a importância e a visibilidade dos Jogos Olímpicos à escala mundial, vem vindo a assistir-se a uma subversão dos princípios que norteiam este acontecimento, tendo os Jogos sido frequentemente usados enquanto palco privilegiado para a expressão mais ou menos directa de confrontos políticos e reivindicações sociais. Não é, portanto, surpreendente a recente polémica em torno de um eventual boicote aos Jogos Olímpicos de Pequim, no próximo Verão.
Nesta questão, há um facto inquestionável. À luz dos princípios de Direito Internacional, a ocupação do Tibete pelo Estado Chinês é uma ocupação ilegítima e contrária a todos esses princípios que esse tal Estado Chinês diz respeitar. E o outro estado, o estado a que a situação chegou actualmente, é o resultado de anos e anos de uma enorme repressão religiosa, económica e política por parte da China.
Muito para além do caso tibetano, esta posição repressora da China tem claramente contribuído para as dramáticas situações vividas nos territórios do Darfur e da Birmânia. E mais, a China é o maior protector diplomático da Kartum e Rangoon, e o maior consumidor do petróleo produzido no Sudão.
Os Jogos Olímpicos têm ainda posto a nu todos os problemas ligados à protecção dos Direitos Humanos na China, nomeadamente quando nos chegam notícias de uma verdadeira limpeza nas ruas de Pequim, de mendigos, prostitutas e outras formas visíveis de pobreza.
Contudo, parece-me que um boicote às Olimpíadas não constitui, de forma alguma, a melhor resposta no contexto actual. São particularmente evidentes os prejuízos para os atletas, que se prepararam anos a fio para o maior evento desportivo à escala mundial e vêem assim goradas as expectativas de sucesso alimentadas durante os últimos tempos. Em meu entender, apenas uma combinação entre medidas de repressão sobre a China e diálogo diplomático com Pequim poderá produzir resultados valorosos.
O poder actual da China na economia à escala mundial não pode ser ignorado. A realização dos Jogos Olímpicos do próximo Verão, mais do que uma ameaça, deverá constituir uma oportunidade para o povo chinês provar a sua capacidade de organização e a sua influência no Mundo. Não pode é de maneira alguma servir para mascarar as evidentes desigualdades sociais do país e afirmar o poder do Estado Chinês por via da força e da repressão sobre os mais fracos.
Os tibetanos encontraram, naturalmente, nos Jogos Olímpicos, uma janela de oportunidade para fazerem ouvir a sua mensagem. Neste contexto, o Dalai Lama encara hoje o seu maior desafio desde o exílio, há 49 anos. Será que a sua mensagem de paz trará definitivamente a liberdade ao seu povo? Uma coisa é certa. A mensagem passou e, independentemente do desfecho final desta História, o Tibete pode pelo menos congratular-se com uma maior abertura e sensibilização da comunidade internacional para um grave problema de violação dos Direitos Humanos.
Até para a semana. Directo à Questão.
publicado por Ricardo às 10:56
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