Quarta-feira, 25 de Fevereiro de 2009
Ora viva. Estamos de volta. Directo à Questão.
Enquanto tal, as empresas necessitam de um propósito, a função objectivo da empresa, um desígnio abrangente que não se reduza à mera satisfação dos cliente e dos proprietários. Como afirma Henry Mintzberg, as empresas não podem sofrer do chamado “síndrome de glorificação do egoísmo”, que aquele autor define como o sacrifício da responsabilidade social em detrimento do valor para o accionista ou “shareholder”.
A responsabilidade social da empresa pode ser definida como a noção de que as empresas têm uma obrigação para com os grupos constituintes da sociedade. As organizações privadas, enquanto verdadeiros veículos sociais, devem justificar a sua existência com a sua contribuição para a sociedade. O que se pretende sublinhar com esta afirmação é que qualquer decisão da empresa tem impacto social, pelo que os critérios de distribuição da propriedade da empresa devem deslocar-se dos fenómenos de fornecimento passivo de capital ao accionista para o desempenho social e intelectual conducente a uma vantagem competitiva.
Neste contexto, a noção de “stakeholder” (ou agente social) assume particular relevância, na medida em que a empresa deve considerar nas suas políticas de gestão todos os grupos ou indivíduos que podem afectar ou são afectados pela realização dos objectivos da organização. Consequentemente, a empresa deve ser compreendida no seu meio envolvente, alargando a visão da gestão sobre o seu papel e responsabilidades, para além da sua função de maximização dos lucros para o detentor da propriedade ou do capital.
Esta noção de responsabilidade social da empresa ou a concepção daquela enquanto um veículo social não se encontra ainda enraizada nos proprietários da grande maioria das nossas empresas. Para além dos baixos níveis de qualificação quer de empresários quer de colaboradores, verifica-se uma reduzida preocupação com o impacto social da actividade da empresa em áreas tão diversificadas como o ambiente, a qualidade ou a solidariedade. Iniciativas ou actividades nestas áreas surgem apenas quando impostas legislativamente, de que constituem exemplo as certificações de qualidade, que quase nunca envolvem os trabalhadores e poucas vezes partem de iniciativa autónoma dos empresários.
A tudo isto associa-se ainda uma fraca aposta nas Tecnologias de Informação e Comunicação (as famosas TIC) e nos processos de Inovação e Desenvolvimento, o que acentua a dificuldade destas empresas, nos seus moldes actuais, em entrarem na “sociedade do conhecimento”, tal como é definida por inúmeros gurus da gestão, como Peter Drucker.
As empresas nacionais continuam, pois, longe de reconhecer aspecto fundamental desempenhado pela responsabilidade social num mercado exigente como o actual. Neste contexto de hipercompetitividade e de crise económico-financeira à escala global, ser socialmente responsável é, mais do que nunca, condição de sucesso e de conquista de mercado.
Até para a semana. Directo à Questão.
Quinta-feira, 19 de Fevereiro de 2009
Ora viva. Estamos de volta. Directo à Questão.
Na última semana tentámos perceber melhor as noções de cidadania e de participação e a sua relação com a inclusão social, enformando a nossa análise no panorama actual de pobreza e exclusão social e nas tendências demográficas de envelhecimento populacional e isolamento social dos idosos.
Hoje prosseguimos a nossa reflexão, tentaremos perceber como pode ser construída essa cidadania participativa por cada um de nós, membros da comunidade e, como tal, agentes de mudança.
Se não, vejamos.
Actualmente, entender como se dá a construção da cidadania implica necessariamente a análise dos processos de constituição de sujeitos sociais que se formam nas mediações, nas práticas de intercâmbio, nas alianças, nas redes de informações em projectos sociais cuja diversidade traduzem relações de justiça e participação social.
A cidadania no mundo contemporâneo prescinde da exigência dos vínculos comunitários tradicionais. Trata-se de um conceito complexo, porque apela à participação fora de contextos necessariamente comunitários e porque, agindo na esfera da liberdade, supõe uma visão social participada.
A parceria visa a organização de um conjunto de parceiros, de natureza distinta, em torno de uma agenda comum, onde são negociados interesses, objectivos e estratégias de acção, mediante o compromisso e a responsabilização dos diferentes agentes e através da partilha de riscos e benefícios.
A ideia de comunidade presente na cidadania moderna é de tipo ideal e temático. A concepção de participação reenvia para um consenso mínimo em torno de valores centrados no ser humano. Isto sob o pano de fundo de uma real fragmentação dos vínculos tradicionais e a afirmação emergente da diferença de posição ou posicionamento como elemento constituinte do próprio processo de socialização.
O modelo de cidadania no mundo contemporâneo não se pode reduzir à simples ideia de recepção mecânica de direitos garantidos por via externa. A cidadania é, assim, simultaneamente inclusiva e exclusiva. Onde, por inclusão, se entende consenso mínimo em torno de valores de tipo social, e onde, por exclusão, se entende direito à afirmação da diferença. Inclusão significa consenso social, logo, simples adesão de princípio. Exclusão significa afirmação da diferença no interior do universo múltiplo de programas que cabem no máximo denominador comum dos princípios objecto de consenso. Isto, naturalmente, no interior da cultura sociológica.
O planeamento das várias estratégias e políticas para combater a pobreza e a exclusão social, que poderão responder de forma mais eficaz às peculiaridades da fenomenologia da privação, é condição “sine qua non” para uma intervenção eficiente.
Assim, importa, essencialmente, expandir o conhecimento, elevar padrões e promover a cooperação intelectual, a fim de facilitar transformações sociais alinhadas segundo valores universais de justiça, liberdade e dignidade humana. Importa ainda criar objectivos voluntaristas de combate à exclusão social, nas suas diferentes formas, visando segmentos do tecido social que se encontrem numa situação de particular desfavorecimento relativamente às possibilidades de inserção no mercado de trabalho.
A visão estratégica que preside à definição de objectivos de desenvolvimento económico-social tem subjacente a necessidade de promoção da democracia, dos padrões de convivência cívica e da protecção dos cidadãos.
Até para a semana. Directo à Questão.
Quarta-feira, 11 de Fevereiro de 2009
Ora viva. Estamos de volta. Directo à Questão.
Segundo projecções demográficas, até 2050, o número de idosos no mundo excederá o de jovens, pela primeira vez na história da humanidade, constituindo 21% da população, enquanto em 1950 este número era de apenas 8%. Portugal e a denominada “Zona do Pinhal” não constituem excepção a estes dados estatísticos, muito pelo contrário, registando elevados índices de envelhecimento.
Para o Ex-Secretário Geral da Organização das Nações Unidas, Kofi Annan, “a expansão do envelhecer não é um problema: é sim uma das maiores conquistas da humanidade”. Os desafios que a realidade demográfica actual coloca centram-se, pois, no processo de optimização da igualdade de oportunidades e da participação social nas suas diversas formas, que vão desde trocas interpessoais até ao pleno exercício dos direitos e deveres de cidadania, até ao fim da vida, visando a promoção de uma verdadeira sociedade para todas as idades.
Com efeito, o envelhecimento da população gera o aparecimento de todo um conjunto de oportunidades que pode e deve ser potenciado a vários níveis, designadamente no que concerne ao tipo e qualidade de iniciativas e de respostas sociais que têm como público-alvo a população idosa. Todas as pessoas idosas devem poder envelhecer em segurança e com dignidade e continuar a participar na sociedade como cidadãos de pleno direito.
A discriminação, a violência, a ausência de dignidade e o abandono social, enfim, todas as formas de exclusão de que são alvo os idosos, constituem uma grave violação dos Direitos Humanos. Depois de todo o foco na protecção das crianças e jovens em risco, cada vez mais parece fazer sentido que falemos em idosos em risco e na efectiva promoção dos seus mais básicos direitos humanos e de cidadania.
A pobreza e a exclusão social não são uma fatalidade ou uma má sorte que bate à porta das pessoas mais vulneráveis. Antes, a pobreza deve ser entendida como um fenómeno amplo, não apenas relacionado com a falta de recursos, mas também, e sobretudo, referente à estrutura de bem-estar e de participação no quotidiano social, englobando elementos tão diversos e fulcrais como a vulnerabilidade, a exclusão social, a violência ou a ausência de dignidade.
A UNESCO acredita que desenvolver o capital social significa fortalecer a sociedade civil por meio de políticas que promovam mudanças reais na qualidade de vida das populações. O desenvolvimento inclusivo procura aproveitar e potenciar a ampliação dos direitos e capacidades das pessoas em todas as suas dimensões (económica, social, política, cultural) e na sua diversidade e especificidade.
A nível nacional, o PNAI - Plano Nacional de Acção para a Inclusão - apresenta uma estratégia integrada de inclusão social, assente numa análise do contexto sócio-económico e dos seus reflexos sobre a pobreza e a exclusão. O diagnóstico da situação portuguesa aponta para a necessidade de investimento em medidas que permitam combater o défice histórico no domínio da pobreza persistente, cuja dimensão é particularmente evidente entre as crianças e as pessoas idosas e junto da população com deficiência.
A cidadania humana concretiza-se na vida concreta, no quotidiano, na dinâmica das relações sociais. Apenas uma efectiva parceria e cooperação entre os diferentes actores sociais locais permite uma resposta cabal às necessidades de solidariedade e de inclusão das pessoas mais vulneráveis aos fenómenos de pobreza. O desenvolvimento inclusivo é um desafio que impende sobre cada um de nós, cidadãos, conscientes dos seus direitos e responsabilidades, preocupados com o bem-estar dos outros, coerentes nas suas opiniões e argumentos, influentes através da sua acção, activos na sua vida comunitária e responsáveis pela mudança.
Na próxima reflexão, continuamos a discutir as noções de cidadania e de participação e a sua ligação à inclusão e ao desenvolvimento social.
Até para a semana. Directo à Questão.
Quarta-feira, 4 de Fevereiro de 2009
Ora viva. Estamos de volta. Directo à Questão.
Já muito se falou sobre a crise económica que abala o Mundo e a confiança de todos. Estamos, talvez, perante a primeira grande crise à escala global e, por isso, aquela que mais desafios coloca a todos os agentes envolvidos, dos decisores ao cidadão comum.
Se me permitirem alguma ironia em tempos de poucos motivos para sorrir, diria que esta crise de que tanto se fala veio, basicamente e tão-somente, pôr em causa tudo que o mundo aprendeu em décadas de estudos económicos e de investimentos financeiros. Nenhum dos paradigmas da ciência económica parece encaixar no cenário complexo que caracteriza o contexto macro-económico contemporâneo.
O chamado modelo económico neoliberal que parecia, até há bem pouco, seguro nos seus fundamentos e generalizável nas suas práticas, parece desmoronar-se como um baralho de cartas à medida que as notícias vão surgindo diariamente, a um ritmo alucinante, nos órgãos de comunicação social.
A vertigem do dinheiro fácil, a segurança do sector financeiro, o panorama perfeito dos paraísos fiscais. Todos estes ilusórios cenários estão transformados em escândalos financeiros, até aqui completamente inimagináveis.
Muitos disseram que nada voltará a ser como dantes. Não poderia concordar mais. Senão vejamos:
Flutuações nos mercados das matérias-primas como as que vimos a assistir nos últimos tempos eram impensáveis há meia dúzia de anos. Falências de instituições financeiras, seguradoras e empresas com uma notória – mas enganosa - sensação de solidez como as que vimos a assistir nos últimos tempos eram impensáveis há meia dúzia de anos. Quedas a pique dos índices bolsistas mundiais como as que vimos a assistir nos últimos tempos eram impensáveis há meia dúzia de anos. Nem mesmo os países emergentes, como a Índia ou a China, habituados a crescimentos anuais na ordem dos dois dígitos, parecem conseguir escapar ao cenário de recessão mundial.
Que modelo económico seria capaz de prever tais cenários? Que modelo económico será capaz de antecipar os desenvolvimentos futuros desta crise? Que modelo económico será capaz de definir as estratégias de combate e de saída do panorama actual?
Já muitos disseram que nada vai ser como dantes. Eu acrescentaria que, qualquer que seja o seu desfecho, esta crise vai ficar registada em todos os manuais de economia e vai inaugurar um novo paradigma de gestão financeira.
E haverá desfechos possíveis?
Numa economia globalizada e “globalizante” como a actual, tudo está relacionado com tudo. Os problemas parecem ser demasiado estruturais porque o próprio paradigma faliu. O sistema, como o habituámos a conceber, definha demasiado para que seja expectável uma auto-regeneração, uma saída de dentro para fora.
Com uma Europa fragmentada e a várias vozes, a necessária mudança no espectro marco-económico decerto terá que surgir vinda dos Estados Unidos da América. Com um fundo mais ou menos emocional, é razoável depositar expectativas na administração Obama, como referimos na nossa última reflexão. E, a partir daí, parece-me que apenas com uma política global convergente e com uma estratégia comum de saída da crise entre Estados Unidos e União Europeia será possível avistar a tal luz ao fundo do túnel que parece insistentemente apagada.
Até para a semana. Directo à Questão.