Quarta-feira, 27 de Maio de 2009

Sobre o Inovador Projecto do Jornal i

 

Ora viva. Estamos de volta. Directo à Questão.
 
O panorama jornalístico português tem uma nova publicação diária. O novo diário chama-se i e foi apresentado como um projecto marcado pela inovação e pela ruptura com os moldes convencionais de fazer jornalismo em Portugal.
Segundo o seu director, Martim Avillez Figueiredo, o projecto da Sojormedia/LENA representa um investimento global de 10,4 milhões de euros. O público-alvo – classes alta e média alta – passa a ter agora disponível nas bancas um jornal com um formato colado ao do espanhol "ABC", agrafado, com um papel mais pesado e com menos 35 a 40 por cento de páginas do que os outros jornais. Trata-se, sem dúvida, de um formato prático e funcional, que não esquece a loucura do dia-a-dia dos leitores.
A categorização dos temas também foge ao tradicional: Opiniões, Radar, Zoom e Mais são as secções do jornal. Martim Avillez Figueiredo descreveu a Radar como “a zona chave do projecto”, a secção onde o leitor fica a “saber o que se passa” e que remete para a Zoom, onde se podem perceber melhor os temas que o jornal escolhe para desenvolver. A Mais é a secção onde se tratam os temas ligados à cultura, ao desporto e ao entretenimento.
É este lado da escolha dos temas que mais surpreende o leitor. A publicação define mesmo como “target” que só tem aquilo que for essencial no dia. Só há textos sobre o que for considerado importante pela redacção do jornal.
O Jornal i não constitui uma amálgama de notícias do dia. O seu conteúdo é, antes, uma selecção apurada e atenta das notícias que realmente interessam. Não está lá tudo. Mas está lá o essencial.
Sem lixo jornalístico ou sensacionalismo barato. Valoriza particularmente a opinião, o ponto de vista. Aborda com rigor os temas que outros apenas afloram. Acrescenta o lado crítico ao quotidiano. A escolha dos temas abordados, apesar de sempre algo subjectiva, é reconhecidamente apurada e fundada em critérios jornalísticos sólidos.
Mas… E quando queremos saber mais? E quando procuramos aquela ou a outra notícia específica? Pois, o i não dispensa a leitura dos jornais diários de referência. Será talvez o seu maior defeito. Que é, sem dúvida alguma, a sua maior virtude.
De resto, pouco mais a acrescentar sobre o novo projecto. A nível da apregoada inovação, não escondo alguma desilusão. Não chega dar nomes bonitos às secções. O preço parece demasiado elevado quando fazemos uma análise comparativa de mercado. As ideias e as notícias não são assim tanto de ruptura quanto isso. E o jornalismo, apesar de reconhecida a sua qualidade, não se destaca particularmente a nenhum nível.
A qualidade está lá. A inovação, em doses moderadas, também. Prometo voltar a comprar. Mas confesso alguma relutância ao conceito. Resta desejar o maior sucesso ao arrojado projecto, que surge num momento conturbado de entrada em qualquer mercado - quanto mais no mercado jornalístico!
 
Até para a semana. Directo à Questão.
 
publicado por Ricardo às 15:43
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Quarta-feira, 20 de Maio de 2009

O rastilho de pólvora da Bela Vista ou uma reflexão sobre o Estado Social

 

Ora viva. Estamos de volta. Directo à Questão.
 
Os recentes acontecimentos no Bairro da Bela Vista, em Setúbal, trouxeram (uma vez mais) à baila as delicadas questões da insegurança e do medo na sociedade portuguesa em geral e, em particular, nos problemáticos bairros sociais das nossas cidades. E, acima de tudo, voltam a pôr-nos a pensar na valia das políticas sociais dos últimos anos no nosso país, que conduziram à proliferação de bairros em zonas sub-urbanas que hoje são, indiscutivelmente, focos de pobreza e de exclusão social, precisamente os problemas que pretendiam combater à data da sua criação.
Similares, mas não propriamente comparáveis, os incidentes em França e na Grécia, num passado não muito longínquo, chocaram o mundo e fazem antever que este fenómeno se torne cada vez mais comum nas nossas cidades. Estaremos preparados para estes focos de violência que, apesar de localizados, parecem tão difíceis de controlar? Será de considerar a hipótese de alastramento e generalização deste tipo de distúrbios a outras cidades e zonas urbanas com problemas idênticos? Poderemos falar em verdadeiros guetos, barris de pólvora prestes a explodir, particularmente no contexto actual de turbulência económica e de crise global? Estarão as forças de segurança devidamente equipadas e preparadas para este tipo de violência?
Muitas questões. Decerto demasiadas questões. Existirão respostas? Fáceis não há nenhuma de certeza. A resposta mais facilitista será, naturalmente, culpar a sociedade como um todo. Mas podemos decerto ir mais fundo. Tanta é a responsabilidade das sucessivas políticas e estratégias sociais que, ao longo dos anos, não foram capazes de antever cenários como o actual.
Vejamos os factos. São três os núcleos da Bela Vista, em Setúbal, com uma população total de 3920 habitantes. O chamado “Bairro Azul” é o mais diversificado, com 48% de portugueses, 31% de africanos, 18% de ciganos e 3% de timorenses. A taxa de desemprego no Bairro da Bela Vista ronda os 29%, mais do triplo de média nacional. Mais de 20% dos moradores recebe Rendimento Social de Inserção. A média das rendas mensais pagas no Bairro é de cerca de 6€. Cerca de um quarto dos moradores não concluiu sequer o primeiro ciclo do Ensino Básico. Existem grupos organizados rivais, existem gangs armados, existe tráfico de droga.
São factos. Valem o que valem. Mas não deixam de denunciar uma mistura explosiva. É este o resultado de anos de políticas sociais assentes no assistencialismo e na subsidio-dependência. O resultado de anos sem uma política de imigração eficiente e sem a integração social dos descendentes daqueles que foram chegando aos centros urbanos por via dos fluxos migratórios. O Bairro da Bela Vista, como outros, nunca devia, pura e simplesmente, ter existido.
 
Até para a semana. Directo à Questão.
publicado por Ricardo às 10:53
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Quinta-feira, 14 de Maio de 2009

Água, Um Bem Essencial à Humanidade

 

Ora viva. Estamos de volta. Directo à Questão.
 
A água é um recurso natural essencial à vida! Quem o lembra é uma das nossas ouvintes numa carta que simpaticamente me fez chegar, lembrando a importância da poupança da água para a preservação da vida no nosso Planeta. E a nossa ouvinte não podia ter mais razão. Nenhum outro elemento da Natureza parece ter um papel tão determinante para a existência de vida como a água. O que nos diz a Biologia é que existem múltiplas formas de vida que conseguem viver na ausência de oxigénio, como as bactérias e as leveduras, mas o que é um facto é que nenhum organismo consegue viver na ausência de água.
No entanto, muitas vezes nos esquecemos que a água, apesar de vital para a sobrevivência de todos os seres vivos, constitui um recurso esgotável. Muitas vezes nos esquecemos que apenas 2,5% da água disponível no nosso planeta pode ser usada para consumo. Muitas vezes nos esquecemos que morrem 4.500 crianças por dia por falta de água potável em todo o mundo.
Num relatório da Organização das Nações Unidas de Março de 2000 sobre a situação da Humanidade face à crescente falta de água, os números não podiam dar mais que pensar: metade da Humanidade – cerca de 3 mil milhões de seres humanos – não tem acesso a água potável. Tudo indica que, a este ritmo, daqui a 50 anos, quando se espera que existam mais de 8 mil milhões de seres humanos a habitar o planeta, a situação se agrave terrivelmente se não houver uma mudança de tendência.
A resposta da ONU é clara. Urge encarar esta realidade com estratégias integradas para, concertadamente, no espaço de uma geração, eliminar o problema. É ponto assente que nos próximos 15 anos é necessário reduzir os 3 mil milhões de seres humanos carentes de água para metade, o que implica uma enorme coordenação e capacidade de partilha de bens vitais desigualmente distribuídos. Basicamente, implica um estratégia planetária que ao mesmo tempo se possa ramificar país a país, região a região, para que, com a maior disciplina, com um grande sentido de civismo e com enorme sentido de partilha de toda a Humanidade perante este problema, seja possível inverter esta evolução verdadeiramente suicida, que põe em risco a própria sustentabilidade da vida no nosso Planeta. No século XXI, o direito à vida para todos deverá constituir uma das grandes batalhas políticas e sociais, tal como o foi no século XX o direito de voto para todos.
Tal como acontece um pouco por toda a Europa, também Portugal continua a gerir mal este valioso recurso. Alexandra Leitão lembra-nos, na Revista Ozono de Dezembro de 2001, que o nosso país, apesar de ser uma das nações da União Europeia com maiores disponibilidades hídricas per capita, continua a apresentar índices de abastecimento público de água abaixo da média europeia e nítidas insuficiências em infra-estruturas hidráulicas. Conhecida que é a interligação entre as descargas dos esgotos e a qualidade da água, Portugal continua a não conseguir servir a totalidade da sua população em matéria de abastecimento de água e saneamento das águas residuais domésticas. Apenas 90% da população tem água ao domicílio e só 55% da população está abrangida pelo tratamento de esgotos, o que torna Portugal um dos mais atrasados da União Europeia. A situação agrava-se com a aplicação, anualmente, na nossa precária agricultura de cerca de 23 mil toneladas de pesticidas que colocam Portugal em 5º lugar no ranking mundial em termos de consumo de pesticidas por unidade de área, que acabam por atingir os rios e as bacias subterrâneas. Como se não fosse suficiente, também as muitas captações de água, feitas sem obedecer a quaisquer preceitos de ordem científica, vão deteriorando os aquíferos subterrâneos.
O desígnio ambiental deve ser encarado como um bem comum. É um dever de cidadania contribuir para a sua preservação de forma a respeitar o mundo que as futuras gerações nos emprestaram. Não esqueçamos nunca que o ambiente de amanhã depende do nosso comportamento de hoje.
 
Até para a semana. Directo à Questão.
publicado por Ricardo às 18:09
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Quarta-feira, 6 de Maio de 2009

Hipocondria, a Doença de Todas as Doenças

 

Ora viva. Estamos de volta. Directo à Questão.
 
Todos conhecemos alguém que está sempre a falar em doenças ou que sente que está sempre doente ou ainda que acha que sabe tudo de medicamentos ou até mesmo alguém que se acha mais médico do que os médicos.
A hipocondria começa com um enorme medo da morte e é uma das doenças mais delicadas do mundo contemporâneo. Nesta perturbação psicológica, o indivíduo, embora saudável, está convencido, de forma obsessiva, que tem uma doença grave
Vimos, numa das nossas últimas reflexões, que a resposta ansiosa é uma resposta normal, funcional e até adaptativa. Lembremo-nos de que ansiedade ocorre sempre que o nosso cérebro interpreta uma situação como ameaçadora. É a resposta ansiosa que mobiliza para a acção, logo é a ansiedade que desencadeia as respostas emocionais, como o medo ou a raiva, fazendo-nos agir perante a ameaça.
A hipocondria é uma doença ligada à interpretação errónea de estímulos considerados ameaçadores para o indivíduo. Trata-se de uma perturbação em que o indivíduo, embora saudável, está preocupado, tem medo ou está convencido, de forma angustiante e obsessiva que tem uma doença grave, tendo por base uma interpretação errada de sintomas físicos.
Enquanto doença, a hipocondria tem critérios de diagnóstico bem definidos. O hipocondríaco é aquele que manifesta uma preocupação com o medo de ter, ou crença de que tem, uma doença grave. Esta preocupação persiste por um período superior a meio ano, apesar de adequada avaliação e tranquilização médicas, e não é explicada por outras doenças psicológicas.
Também já aqui dissemos que o limiar entre o normal e o patológico é uma fronteira muito ténue. É por isso que, lá por ter alguns destes sintomas associados à hipocondria, não significa que se seja hipocondríaco. Apenas quando aqueles sintomas interferem de tal forma no quotidiano do indivíduo, que afectam o seu bem-estar, é que podemos falar em doença.
Habitualmente estes doentes consultam o médico por outros motivos que não a hipocondria. Na maior parte das vezes, para fazer análises e exames que sirvam de tranquilizadores. Mas, nestes casos, quando os exames indicam que a pessoa não sofre de nenhuma doença, a culpa é sempre do técnico ou da máquina, não servindo para tranquilização e chegando mesmo a conduzir a novas visitas ao médico para tentar desconfirmar os resultados.
Outro dos motivos que levam os hipocondríacos ao médico são os ataques de pânico, ou seja, picos de ansiedade associados à ideia de que se está prestes a morrer. Nestas situações, o mais habitual até é mesmo o doente levar um sermão do médico, porque fica a sensação de que veio a um serviço de urgência sem ter qualquer doença, muitas vezes por falta de reconhecimento do problema ou mesmo pela interpretação errada dos sintomas.
Calcula-se que a prevalência da hipocondria nas consultas de clínica geral se situe entre os quatro e os nove por cento, sendo que pode surgir em qualquer idade, mas o seu aparecimento é mais frequente no início da idade adulta. A evolução da doença é geralmente crónica, com sintomas flutuantes, registando-se algumas vezes remissão completa.
Embora não exista tratamento farmacológico específico para a perturbação de hipocondria, na maior parte das vezes o recurso a psico-fármacos aliado à terapia psicológica ajude a ultrapassar a doença.
 
Até para a semana. Directo à Questão.
 
publicado por Ricardo às 11:21
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