Ora viva. Estamos de volta. Directo à Questão.
Diz Miguel Esteves Cardoso no Público de 20 de Maio de 2010 que “o costume é ligar de mais ao que os estrangeiros dizem de Portugal, reagindo com fúria ou condescendência. Mas sempre reagindo. E sempre de mais.
Na versão mais tuga, discute-se com o autor como se ele estivesse sentado à mesma mesa que nós: «Não, Mr. Wilson, as nossas cachopas não andam descalças porque não têm dinheiro para comprar sapatos. Será porventura assim com os súbditos de Her Royal Highness, mas aqui em Portugal, I’m sorry to say, só anda descalço quem quer».
É uma atitude pertinente perante uma altura de frânticas exclamações de não sermos a Grécia. O Financial Times e o Economist não são o Reino Unido – são jornais. O que dizem sobre Portugal é escrito por uma ou duas pessoas e lido por poucas mais. Os ditos mercados estariam lixados se dependessem do que lêem nos jornais. Não é só saber que são falíveis. Sabem mais: que, caso seguissem as recomendações que fazem, estariam falidos há muito tempo”.
Serve este excerto de uma das últimas crónicas de Miguel Esteves Cardoso para introduzir o tema que trazemos a reflexão esta semana. E que me perdoem os nossos ouvintes pela insistência nos temas económicos, mas hoje gostaria de falar na crise sempre a crise – sob um ponto de vista diferente: o ponto de vista de como ela é percebida no estrangeiro e de como os portugueses lidam com a forma como falam de nós.
É um clássico afirmar que ligamos em demasia à forma como além fronteiras falam de nós. Mas encontramo-nos numa fase em que se fala particularmente de Portugal no estrangeiro, como de resto há muito não se falava. E pelas piores razões. Basta folhear o Financial Times e o Economist para encontrar logo uma referência aos famosos PIIGS, sigla que identifica as iniciais dos países europeus com economias débeis, que crescem menos que as outras em momentos de prosperidade e são os primeiros a receber o impacto negativo em momentos de crise. São eles Portugal, Itália Irlanda e Grécia. E, apesar de ser indiscutível que a situação lusa não pode ser comparada à grega, também é verdade que nos encontramos numa situação muito delicada, um efeito bola de neve que exige medidas de austeridade sem precedentes. De uma forma muito simplista, qualquer português percebe o seguinte efeito dominó: um Estado gordo e ineficiente é o principal motor de uma economia que importa a maior parte do que consome; contudo, a elevada dívida do Estado impede que este lance novos investimentos públicos ou tão-somente assuma os seus compromissos prévios e pague a horas aos seus fornecedores; por sua vez, estes privados não recebem do Estado e não conseguem financiar-se porque as instituições bancárias não emprestam dado que os juros de financiamento no exterior encontram-se em níveis históricos elevadíssimos; a solução, à falta de melhores, é aumentar impostos, o que origina um aumento da inflação, um menor poder de compra e uma clara tendência recessiva de uma economia já de si débil.
Fácil? Não é, naturalmente. Mas também é evidente que se exagera muito no que se escreve lá fora. E, sobretudo, é verdade que nós, os tugas, continuamos pouco cientes da verdadeira dimensão da crise e a acreditar pouco nos vaticínios que nos colocam numa posição de ruptura. Talvez tão simplesmente porque já estamos habituados. Talvez porque fomos sempre capazes de superar de forma mais ou menos hábil as contrariedades com que nos fomos deparando ao longo da história. Talvez porque simplesmente nunca saímos verdadeiramente da crise.
Até para a semana. Directo à Questão.
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