Ora viva. Estamos de volta. Directo à Questão.
A 9 de Dezembro de 1854, faz hoje precisamente cento e cinquenta e cinco anos, morria em Lisboa o escritor e dramaturgo romântico, Almeida Garrett.
Garrett nasceu no Porto, em 4 de Fevereiro de 1799. Filho segundo do selador-mor da Alfândega do Porto, passa a adolescência na ilha Terceira. Em 1816, tendo regressado ao continente, inscreve-se na Universidade de Coimbra, na Faculdade de Leis, sendo aí que entra em contacto com os ideais liberais. É na cidade dos estudantes que organiza uma loja maçónica, frequentada por alunos da Universidade.
Participa entusiasticamente na revolução de 1820 e, enquanto dirigente estudantil e orador, defende o vintismo com ardor escrevendo um Hino Patriótico recitado no Teatro de São João. Em 1821 estabelece-se em Lisboa, onde continua a publicar escritos patrióticos, concluindo a Licenciatura em Novembro deste ano. Em 11 de Novembro de 1822, casa com Luísa Midosi.
A Vilafrancada, o golpe militar de D. Miguel que, em 1823, acaba com a primeira experiência liberal em Portugal, leva-o para o exílio. Estabelece-se em Março de 1824 no Havre, cidade portuária francesa na foz do Sena, mas em Dezembro está desempregado, o que o leva a ir viver para Paris. De 1828 a 1831 vive em Inglaterra, indo depois para França, onde se integra num batalhão de caçadores, e mais tarde, em 1832, para os Açores integrado na expedição comandada por D. Pedro IV. É por terras açorianas que se transfere para o corpo académico, sendo mais tarde chamado, por Mouzinho da Silveira, para a Secretaria de Estado do Reino.
Em 1838 é nomeado cronista-mor do Reino, organizando logo no princípio de 1839 um curso de leituras públicas de História. É entretanto eleito deputado nas eleições para a nova Câmara dos Deputados cartista. No ano de 1843 começa a publicar, na Revista Universal Lisbonense, as Viagens na Minha Terra, descrevendo a viagem ao vale de Santarém começada em 17 de Julho. Anteriormente, em 6 de Maio, tinha lido no Conservatório Nacional uma memória em que apresentou a peça de teatro Frei Luís de Sousa, fazendo a primeira leitura do drama. São duas das suas mais emblemáticas obras.
Com o fim do Cabralismo e o começo da Regeneração, em 1851, Almeida Garrett é consagrado oficialmente. É nomeado sucessivamente para a redacção das instruções ao projecto da lei eleitoral, como plenipotenciário nas negociações com a Santa Sé, para a comissão de reforma da Academia das Ciências, vogal na comissão das bases da lei eleitoral, e na comissão de reorganização dos serviços públicos, para além de vogal do Conselho Ultramarino, e de estar encarregado da redacção do que irá ser o Acto Adicional à Carta. Em 25 de Junho é agraciado com o título de Visconde, em duas vidas.
Em 1852 é eleito novamente deputado e, mais tarde, ministro dos Negócios Estrangeiros. Morre em 9 de Dezembro de 1854 devido a um cancro de origem hepática, tendo sido sepultado no Cemitério dos Prazeres.
Evocamos Garrett com um poema intitulado “Beleza”, uma homenagem ao amor e ao belo, incluída na colectânea “Folhas Caídas”.
Vem do amor a Beleza,
Como a luz vem da chama.
É lei da natureza:
Queres ser bela? - ama.
Formas de encantar,
Na tela o pincel
As pode pintar;
No bronze o buril
As sabe gravar;
E estátua gentil
Fazer o cinzel
Da pedra mais dura...
Mas Beleza é isso? - Não; só formosura.
Sorrindo entre dores
Ao filho que adora
Inda antes de o ver
- Qual sorri a aurora
Chorando nas flores
Que estão por nascer –
A mãe é a mais bela das obras de Deus.
Se ela ama! - O mais puro do fogo dos céus
Lhe ateia essa chama de luz cristalina:
É a luz divina
Que nunca mudou,
É luz... é a Beleza
Em toda a pureza
Que Deus a criou.
Até para a semana. Directo à Questão.