Ora viva. Estamos de volta. Directo à Questão.
Hollywood recebeu, no passado domingo, mais uma Cerimónia de Entrega dos Óscares, os mais prestigiados prémios de cinema. Foi uma cerimónia pobre, algo monótona, com poucas surpresas. Mas sempre com aquele glamour, aquele suspense e aquela emoção que só as grandes estrelas norte-americanas nos sabem proporcionar. Esmiuçamos hoje alguns dos filmes a concurso.
“Up In The Air” (Nas Nuvens) é um filme simples, mas brilhante; leve, mas que dá que pensar. O argumento de Reitman é genial (um dos melhores dos últimos tempos) e a interpretação de Clooney é sem ponta de mácula (inevitável a sua nomeação para a estatueta da Academia).
Uma reflexão sobre tudo o que se esconde por trás dos estereótipos e dos preconceitos. Uma história de vida, que podia ser a de qualquer um de nós, no frenético mundo das aparências em que vivemos.
Sem falsas pretensões, é um filme entre o global e o local, entre o falso e o real, entre as nuvens e os pés bem assentes na terra. Um hino aos pequenos prazeres da vida, à beleza dos sentimentos. Depois de "Slumdog Millionaire", há novamente bons motivos para descobrir o que de mais puro e mágico existe no cinema. A sétima arte na sua presença mais básica e tambem mais genuína.
Talvez uma agradável surpresa. Foi, contudo, um dos grandes derrotados da noite, não tendo conseguido arrebatar qualquer estatueta.
Depois temos “Precious”, vencedor de dois Óscares. Baseado no livro "Push", de Ramona Lofton, que valeu o Óscar de melhor argumento adaptado, conta com uma cuidada realização de Lee Daniels e a mediática produção de Oprah Winfrey. A vitória de Mo'Nique, Óscar para melhor actriz secundária, não surge por acaso. Depois há a interpretação de Mariah Carey, absolutamente irreconhecível (mais dez quilos e menos dez por cento de maquilhagem) na pele de assistente social.
É um filme precioso, cheio de preciosas interpretações e de uma preciosa carga dramática. Nada parece ter sido deixado ao acaso, desde a valorização das performances individuais dos actores até à suavização do lado inevitavelmente pesado do tema. Mostra de forma brilhante um lado da sociedade tão poucas vezes mostrado nos ecrãs, que coloca a nu uma América literalmente "negra". Pesado, forte e perturbante. Mas tocante, emocionante e intenso. Um filme obrigatório.
“Avatar” era, inevitavelmente, o mais sério candidato aos Óscares marcados para a noite do dia 7 de Março. O favoritismo não se confirmou e o filme venceu apenas três das nove estatuetas para as quais estava nomeado. Independentemente de tudo o resto, Avatar é, indiscutivelmente, o filme que marca o ano cinematográfico.
Cameron esperou anos para fazer um filme assim. Reunidas as condições tecnológicas que permitiram fazer de “Avatar” um marco na história do cinema (na minha opinião, desde “Matrix” que não se assistia a um tal rompimento com o passado), faltava saber até onde podia chegar este filme. Conquistado o Globo de Ouro atribuído pela exigente Imprensa Estrangeira e pulverizados os recordes de bilheteira pertencentes a outra obra de James Cameron, “Titanic”, de 1997, este visionário filme que nos conduz até Pandora, um mundo imaginário cheio de magia, tinha todos os ingredientes para conquistar a Academia.
O problema é que, ironicamente, foi a ex-mulher de Cameron, Kathryn Bigelow, a quarta mulher na história a ser nomeada pela Academia para o galardão de Melhor Realizador, a roubar a estatueta a “Avatar”. O feito fez dela a primeira de sempre a ganhar o Óscar de Realização, desta feita pelo filme “The Hurt Locker” ("Estado de Guerra"), uma película mais ao estilo “hollywoodesco”, um explosivo drama de guerra sobre uma patrulha à caça de bombas em solo iraquiano que celebra o combatente e o patriotismo americanos.
De regresso à fórmula dos dez nomeados para melhor filme, que não era utilizada desde 1944, coube à fita de Kathryn Bigelow a honra de sair de Hollywood com a mais cobiçada estatueta da noite e ainda mais cinco Óscares, entre os quais o de melhor argumento original, mistura de som e montagem.
Até para a semana. Directo à Questão.