Quinta-feira, 8 de Abril de 2010

D. Pedro I – Entre a lenda e o real, uma história ímpar na História nacional

 

Ora viva. Estamos de volta. Directo à Questão.

 

A 8 de Abril de 1320, faz amanhã precisamente 690 anos, nascia em Coimbra D. Pedro I, quarto filho do rei Afonso IV e de sua mulher, D. Beatriz de Castela. Cognominado "o Justiceiro", foi o oitavo rei de Portugal. Recordamos hoje a história de D. Pedro, entre a lenda e o real, uma das mais impares e sublimes histórias na História nacional.

Nascido na Lusa Atenas, a 8 de Abril do ano de 1320, D. Pedro foi coroado Rei de Portugal aos 37 anos de idade. Reinou por apenas 10 anos, de 1357 a 1367, como D.Pedro I. Como na época os casamentos eram arranjados desde a tenra idade em função de estratégias e interesses políticos, D. Pedro I e D. Constança, princesa e filha do Infante de Castela, D. João Manuel, vieram a casar-se. A noiva veio para Portugal, acompanhada por um séquito, do qual fazia parte uma aia Galega, chamada Inês de Castro que, segundo as crónicas, "não podia ser tocada de graças mais peregrinas, esbelta, cabelos fulvos...".. Filha do fidalgo Pedro Fernandez de Castro, Inês, segundo os poetas, era uma mulher lindíssima, e o príncipe D. Pedro I depressa se apaixonou perdidamente por ela. E foi por ela que D. Pedro deixou de lado as conveniências de Estado e as reprovações de todos.

A corte considerava uma afronta aquela ligação indecorosa pelos problemas morais e religiosos que levantava, bem como pelo perigo que a influência da família dos Castros de Espanha poderia trazer à coroa portuguesa. As intrigas que chegavam ao Rei D. Afonso IV, apressavam o monarca a agir. Brando de costumes, mas firme de valores, o Rei despacha D. Inês para o exílio próximo à fronteira Espanhola em 1344. A distância, no entanto, em nada alterou a paixão de Pedro e Inês. Com a morte de D. Constança, o Rei tenta, novamente, casar seu filho com uma dama de sangue real, tendo D. Pedro rejeitado a ideia e trazido Inês do exílio para a instalar com ele nas bucólicas margens do Rio Mondego no Paço de Santa Clara, em Coimbra.

Embora D. Afonso compreendesse as razões daquela ligação perigosa, todo o enredo político-social da época levou-o a tomar uma decisão drástica. Em reunião convocada sem a presença de D. Pedro, ficou definida a execução de D. Inês. Apesar de ser mãe de três filhos de D. Pedro, os executores régios, aproveitando a ausência de D. Pedro numa das suas habituais caçadas, entraram no Paço e ali decapitaram Inês com apenas 30 anos de idade.

Inconsolável com a perda de Inês, D. Pedro chegou a declarar guerra ao pai. Dois anos depois, aquando da morte de D. Afonso IV e da sua subida ao trono, D. Pedro diligenciou a captura dos assassinos de D. Inês. Diz a lenda, não documentalmente provada e aparentemente obra de poetas da época, que D. Pedro chegou a fazer coroar rainha D. Inês, obrigando a nobreza, que tanto a tinha desprezado, a beijar-lhe a mão, depois de morta.

Cumprida a sua vingança, D. Pedro I ordenou a translação do corpo de Inês, da campa modesta no Mosteiro de Santa Clara, em Coimbra, onde se encontrava, para um túmulo delicadamente lavrado, qual renda de pedra, que mandou colocar no Mosteiro de Alcobaça. Mais tarde, D. Pedro I mandou esculpir outro túmulo semelhante ao da sua amada, colocando-o em frente ao da sua Inês, para, após a sua morte, permanecer ao lado do seu grande amor.

Homem maduro, experiente e conhecedor do país, Pedro foi amado pelo povo e temido pelos grandes. Fernão Lopes não lhe regateia louvores: alegre, magnânimo, liberal, justo, popular e cavalheiro. No entanto, os historiadores modernos têm visto antes D. Pedro como um homem agressivo e neurótico.

Chamaram-lhe o Cru, ou cruel, e consta que terá sido. Mas foi-o castigando crimes, os mais variados, nas mais variadas pessoas, sempre de uma forma que hoje podíamos dizer democrática. Foi por isso que o chamaram também de Justiceiro. No ano de 1361, faz dos seus filhos com Inês de Castro, D. João e D. Dinis, senhores de Porto de Mós e do Prado. A outro filho mais novo, o bastardo D. João, filho de Teresa Lourenço, faz nomear Mestre de Avis, iniciando a nacionalização das ordens militares e baptizando, sem saber, a dinastia de todos os orgulhos portugueses. Foi assim o “avô” da Dinastia de Avis. Demonstrou ser político muito hábil e previdente, privilegiando sempre a paz do reino, o que conseguiu. O governo de D. Pedro I foi o único do século catorze em que Portugal não conheceu guerras. Faleceu a 18 de Janeiro de 1367.

Eis um misto de história e lenda, imortalizada em poemas, pinturas, musicas, peças, textos e esculturas. O que é facto incontestável é o grande amor que uniu D. Pedro e Inês de Castro, tanto na vida quanto após a morte, continua a encantar o mundo há quase 700 anos. Uma verdadeira história de paixão na História de Portugal - sublime e trágica, demonstrando toda a magia da devoção entre dois amantes.

 

 

Até para a semana. Directo à Questão.

publicado por Ricardo às 00:46
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