Ora viva. Estamos de volta. Directo à Questão.
Sabemos que muitos dos relacionamentos terminam por questões eminentemente ligadas à performance sexual. Impõe-se, pois, a questão: será que um mau desempenho sexual justifica o fim de um relacionamento?
Por mais que queiramos “tapar o sol com a peneira”, continua a ser difícil falar abertamente sobre sexo na sociedade portuguesa. Questões culturais, ideológicas, políticas, sociais ou mesmo religiosas continuam a condicionar a nossa abordagem sobre as questões sexuais. Eterno tema tabu e sempre envolto em mil e um mitos, só há bem pouco tempo é que o sexo começou a ser abordado de uma forma mais pedagógica, enquanto um dos pilares da educação para a cidadania. É, por isso, um desafio trazer o tema para uma reflexão radiofónica e abordá-lo com a seriedade e a isenção necessárias para que seja possível um verdadeiro aconselhamento na área.
Porque não existem receitas e cada caso é um caso, aqui ficam algumas opiniões técnicas de diversos autores credenciados sobre comportamentos e (dis)funções sexuais e outros tantos pontos de discussão sobre o tema que espero nos possam fazer reflectir seriamente sobre a questão da sexualidade humana e tentar, então, perceber se um relacionamento pode ser efectivamente condicionado por um mau desempenho sexual.
O sexo associado a um mero mecanismo de reprodução há muito é entendido como uma perspectiva limitativa da sexualidade humana e qualquer relação sexual deve, naturalmente, incluir e fomentar comportamentos propiciadores de prazer para além do mero coito reprodutivo, designadamente o sexo oral e anal, o beijo e exploração do corpo, as carícias heterossexuais (“petting”), os processos imaginais, os fetiches e demais fantasias sexuais.
É inequívoco que o tipo, o número e a diversidade de fantasias e a própria frequência de actividades sexuais devem ser definidas em conjunto pelo casal, idealmente através de um processo de negociação conjunta entre ambos
As fantasias e fetiches sexuais não estão associados a dificuldades no funcionamento sexual nem a perturbações de personalidade, muito pelo contrário, eles permitem quebrar alguma monotonia ou falta de estimulação normais em determinados momentos do relacionamento.
A inovação das práticas sexuais depende, obviamente, da margem de liberdade que é dada a cada um dos lados do relacionamento e das respectivas codificações sociais e culturais da sexualidade.
Relativamente às motivações para o sexo, as mulheres tendem a valorizar mais dimensões predominantemente relacionais, como a proximidade emocional, as carícias e os beijos, enquanto os homens valorizam mais os aspectos essencialmente físicos, como o orgasmo, o prazer e o contacto oral-genital.
Se é verdade que os homens tendem a gostar mais de sexo do que as mulheres, também é verdade que são elas que mais valorizam a paixão enquanto motivação para o sexo e mais fazem depender o relacionamento do desempenho sexual.
Os homens julgam que percebem mais de sexo e vangloriam-se mais entre pares do que aquilo que realmente conhecem ou são capazes de concretizar (e por isso raramente procuram informar-se sobre o assunto ou melhorar a sua performance sexual), enquanto que as mulheres são mais modestas nos comentários entre pares, mas são aquelas que mais percebem de sexo e mais procuram informação tendo em vista a melhoria do seu desempenho sexual.
A harmonia de um relacionamento é indissociável da sexualidade, mas não depende exclusivamente desta: existe todo um conjunto de factores, que vão da esfera do trabalho a condicionantes económicas e factores de stress familiar que, como o desempenho sexual, interferem na funcionalidade da relação.
Até para a semana. Directo à Questão.